Uma das áreas verdes mais simbólicas do Rio de Janeiro é a Quinta da Boa Vista.Em plena zona norte da cidade,ela é palco do lazer dos tijucanos e dos que moram nas áreas vizinhas.Localizada no bairro imperial de São Cristovão,tem acesso fácil através do metrô e do transporte público ,tendo sido residência da família Real portuguesa,que a recebeu ,como um presente,de Elias Antonio Lopes.
Manhã ensolarada de fevereiro,deixo meu home office por algumas horas ,para viver o que os franceses chamam de "dépaysement" ou seja uma mudança de cenário.A Quinta está bem vazia,um verde a cobre e a acaricia,dentro do esplendor dos prédios que a povoam,embora fechados para uma retomada de novos ares,como o Jardim Zoológico e o Museu Nacional,que foi atingido por um incêndio de grandes proporções. .Caminho pelos jardins e lagos criados pelo paisagista francês Auguste Glaziou.São cerca de 155 mil metros quadrados,onde me lembro dos sábados em que meu pai me levava para jogar futebol com o Tales,meu irmão,em sua emblemática Kombi ,que às vezes carregava primos e vizinhos .Volta e meia,encontro um casal ou uma família fazendo um piquenique.Num momento tão complexo e grave da pandemia,é um local aberto que nos acolhe com suas grutas e aluguel de bicicletas.
Vejo um dos lagos repleto de um grupo de crianças.Parecem se conhecer.Conversam e riem.Embora haja uma placa proibindo o banho,se aventuram com rápidos mergulhos e seus rostos deixam transparecer alegria e reconhecimento por um dia fenomenal.É proibido proibir sem fiscalização,o que ali é uma realidade.
Ao longo do passeio,fotografo ,clico natureza,descoberta e vejo os vendedores de bolas coloridas e bonecos de plastico.Papai sempre comprava um presente para nós e aquele colorido lúdico me remete a uma nova sensação de empoderamento sustentável,em plena diversidade botânica.Não quero sair de mãos abanando e lembro de uma sobrinha que a vida me regalou e compro um sapo de plastico,verde por sinal,que seu pai que me acompanha sugere.Há quadras poliesportivas também e grupos de jovens se preparam para jogar,devidamente uniformizados.Olham para mim,que pareço um gringo,atônitos e pedindo para ser fotografados,com pequenos risos de nervosismo.
A fome começa a apertar,como dizemos de forma mais coloquial e me dirijo para o Restaurante da Quinta,outrora chamado Imperial,uma relíquia deixada pelo português Manoelzinho,hoje com gestão de seu filho.Ele tem dois salões,um deles com umas 4 mesas ocupadas mas um segundo vazio.Pergunto sobre a possibilidade de comer no segundo e o gerente gentilmente autoriza.A comida é deliciosa e diariamente,há um prato executivo para 2 pessoas,que custa em média cento e setenta reais.O forte é o famoso bacalhau.Meu amigo e eu escolhemos e somos brindados por uma experiência gastronomica única.Custa duzentos e trinta reais e o garçon que nos atende ,delicadamente tira as poucas espinhas e nos serve com refinamento e cortesia.O bacalhau desmancha na boca .Foi precedido de um couvert que acalentou nosso apetite.A sobremesa é um pastel de nata quente.Vivi um pouco meu Portugal querido.
Antes de voltar para casa ,paramos na Cadeg,para comprar orquídeas ,lindissimas e com preços salutares e frutas.Deixo,no entanto ,para uma próxima vez,o relato de tal vivência que merece um texto caprichado.
Bayard Do Coutto Boiteux é professor universitário,pesquisador,funcionário público e colabora com o Instituto Preservale e a Associação dos Embaixadores de Turismo do RJ.(www.bayardboiteux.com.br)