20/07/2020

Saudades de Viajar


Saudades de viajar


Nasci para conhecer o desconhecido.Aprendi a ter prazer visitando o não convencional e buscando novas formas de compreender a   diversidade ,a maior riqueza mundial,que me faz sonhar e pensar num mundo melhor.Viajar  nos proporciona justamente uma nova visão da realidade,cercada de experiências culturais e naturais.Sempre gostei de provar novas sensações de bem estar que culturas totalmente opostas a minha são capazes de nos proporcionar.Por isso,me considero cidadão do mundo pela arte da resiliência que as viagens me ensinaram e ainda hão de me ensinar muito mais.
Não me bastam hotéis,quero muito mais.Vivo em cada viagem,como se fosse um nativo.Ando de transporte publico,me hospedo na casa de famílias e tento perguntar a cada um com quem me envolvo,características peculiares daquela sociedade que a tornam tão sedutora.As vezes,alugo um carro por dias com um motorista e guia para descobrir facetas não incluídas em nenhum guia turístico daquele destino.Cada viagem me traz um gosto diferente de amar ,de ser amado e de encontrar na incidência do passear uma nova ideia para aprimorar meu interior e me provar que viver viajando pode fazer o individuo melhor em todos os aspectos.
A fotografia me seduz.Vou clicando tudo que vejo desde rostos,a casas,centros culturais,comidas nas ruas e nos restaurantes ,belezas naturais ,flores.Enfm,fotografo a vida e quero compartilhar rapidamente com todos meus amigos e conhecidos.Compartilhar  conhecimento e informação faz parte das diretrizes que dou a minha arte de ser feliz.Como adoro escrever,vou contando diariamente cada momento que vivo nas redes sociais,como um dever moral de mostrar a riqueza existente no contraditório cultural do mundo globalizado.
No meu tempo livre,planejo novas incursões com amigos que vão me conduzir,tendo na sensação da descoberta do novo,uma generosidade extrema e a possibilidade de juntos apreciarmos,mesmo que de forma diferente,os encantos que os caminhos ensolarados e chuvosos apontam para nosso engrandecimento interno e nossa sedução de respeito ao próximo.
A pandemia mudou totalmente meu caminho que parecia traçado para sempre.Me ensinou a viajar dentro de casa mas precisamente dentro demim.Me trouxe uma viagem que eu desconhecia e não tinha tempo para pensar:descobrir dentro demim novas aptidões e deixar meu blog parado ,como se ele tivesse se calado para receber um novo Bayard,que sempre solidário com os outros,desconhecia algumas de suas feridas e queria viver viajando sem que elas viessem à tona e passassem desapercebidas .Era o momento de curá-las e para isso surgiu uma ansiedade que nunca tinha me acometido e que me fez sentir muito medo mas foi a forma que encontrei para me descobrir.
Não me acho diferente mas estou aprendendo muitocom várias pessoas,com quem divido minhas dúvidas e vejo que não existem mais certezas.Sinto,para minha tristeza um ódio latente em várias pessoas que pareceu surgir repentinamente mas que no fundo existia e as redes sociais permitiram sua visibilidade.Por outro lado ,vi muita solidariedade,muita amizade.muito discurso de companheirismo que me fez e me faz acreditar que uma parte do mundo está mudando e se tornando mais humana.Tal fato me permite acordar todo dia,me levantar e lutar para que meus terremotos não me abalem e que fique imune ao discurso do ódio e das fakenews,daqueles  que apesar de tantas perdas,ainda não entenderam que o mundo é uma viagem pela criatividade que cada cultura traz e deixa aberto para ser explorado,entendido mas sobretudo espiritualizado , com base na evolução científica.
Hoje,sinto muita falta das viagens mas não pretendo retomá-las antes de uma vacina que me dê segurança e de uma retomada  verdadeira do turismo dentro da sustentabilidade e da ética.Sim,sinto saudades de estar dentro de um avião,num país bem longe ou simplesmente nas cidades convencionais como Paris e Nova Iorque,aqui no Rio ,no Brasil andando sem rumo para poder contar alguma novidade.No momento estou em casa ,fazendo teletrabalho e acompanhando com tristeza as politicas equivocadas que são levadas à cabo e defendidas sem argumentos racionais,com pessoas,que vivem  uma emoção fora da realidade de que a “gripezinha” vai passar e que não atingirá qualquer um.Desrespeitam pesquisadores e circulam sem mascaras,com peito estufado ,se achando seres diferentes e superiores.Viajam num mundo paralelo e não colocaram os pés no chão.
Tenho fé de que num futuro próximo voltarei a viajar,perto ou longe de casa pois qualquer passeio me dá uma força grande para sentir o devir e continuar aprendendo com cada experiência que a  vida me convidar.
Saudades eternas de tudo que vivi mas agora pronto para viver uma nova era,que espero traga menos ódio,democracia e flexibilidade intectual para um mundo melhor.

Bayard Do Coutto Boiteux é professor universitário,escritor ,pesquisador ,funcionário público e trabalha voluntariamente no Instituto Preservale e na Associação dos Embaixadores de Turismo do RJ.

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